04 novembro 2006

A DESCONTEXTUALIZAÇÃO

A DESCONTEXTUALIZAÇÃO
DE UMA SOCIEDADE DE AUTORES E COMPOSITORES

O Ciclo de Música “in memoriam” de Lopes-Graça do Cantar Natal vai ser taxado pela SPA., como é normal e de Lei.
Nos dias que correm, com a Internet e os novos meios de comunicação, começa a estar em causa a propriedade intelectual e artística e compreende-se que a SPA trabalhe no sentido de defender os seus Associados.
O que já não se compreende é que, para um Ciclo de Música de comemoração de um centenário como o de Lopes Graça, se aplique o seguinte processo fiscal:
Concerto do Coro Canto-Firme: Sala de 250 lugares (Auditório Lopes-Graça) x euros.
Concerto da Orquestra Sinfónica com piano, sala de 444 lugares (Cine-Teatro) x euros.
Pela lógica seguida, tanto vale uma obra sinfónica, para aí com trinta e tal partes escritas, que demora umas centenas de horas a escrever e umas dezenas de minutos a reproduzir, como uma peça coral a 4 vozes que demora uma meia - dúzia de horas a escrever e dois ou três minutos a apresentar. No mínimo isto é ignorância!
Agora o requinte de tudo isto, é a cobrança da mesma taxa para um concerto com duas dezenas de espectadores a assistir, como foi o caso do concerto do Coro Canto-Firme, como para um concerto com centenas de pessoas como se espera venha a ser o caso do concerto no Cine-Teatro… Aquilo que é cobrado pela SPA não é o número de pessoas mas sim o número de lugares na sala.
Para que fique bem claro toda a aberração desta cobrança, a receita de bilhetes do concerto do Coro Canto –Firme, foi quatro vezes inferior àquilo que acabou por ser cobrado pela SPA.
Para quem não saiba, a SPA não fica na Rua António Maria Cardoso, fica ao cimo da Duque de Loulé em dois prédios enormes, sendo um “prédio de arquitecto”, construído de raiz e um outro comprado para melhor zelar pelos compositores pobres…
Edita uma Revista, de um grafismo e qualidade de impressão irrepreensíveis e com um conteúdo onde são promovidos compositores como o Toy, o Emanuel, o Quim Barreiros etc, etrc…
Conclusão: Neste País, começa a ser um hábito só existir coragem para atacar sem dó os mais fracos ! Sim, porque à cautela, a SPA apresentou queixa na Polícia sobre tais pagamentos…
Moral da história: A Canto – Firme não está contextualizada com esta nova visão social da cultura. Isto de ainda fazermos esforços para a divulgar e promover a cultura, definitivamente, não está a dar. É o poder local contra a cultura, é o poder nacional a abandonar a cultura e por último são os próprios agentes da cultura a dar também uma ajudinha…
Para contar aos netos fica que um coro de amadores acabou por pagar várias centenas de euros por ter cometido o crime de cantar … Vão seguir-se as taxas para as lavadeiras, para os ranchos da azeitona, para os pedreiros e para as próprias Missas Dominicais… Scht!! Cuidado que eles podem andar aí!!!

Ps: No caso das Missas, cuidado!!! A igreja de S. João leva mais de quinhentas pessoas…

24 outubro 2006

Lopes-graça e nacionalismo português e brasileiro

Na década de 50, ultrapassada a actividade no seio do MUD (Movimento de Unidade Democrática) para a eleição do General Norton de Matos, Lopes-Graça, a exemplo de muitos outros artistas, professores e intelectuais, sofreu o mais forte ataque e a maior perseguição, por parte do Estado – Novo, numa clara e séria tentativa de cortar com todos os seus meios de subsistência (A Emissora Nacional fica proibida de passar a sua música, as Orquestras Nacionais de a incluir nos seus programas, é expulso da Sociedade Portuguesa de Autores e Compositores Portugueses…).
Em 1954, o último golpe consiste em retirar-lhe o Diploma de Professor do Ensino Particular, donde resulta o abandono compulsivo da Academia de Amadores de Música, onde exercia a Direcção Pedagógica partilhada com Tomaz Borba.
Curiosamente, quase parecendo que se abstraiu de todos estes problemas, os anos 50 representam a fase de maior amadurecimento da sua linguagem musical e de um monumental frenesim criativo.
São os amigos quem tudo faz para o ajudar. Uns para que permaneça em Portugal, oferecem-lhe trabalhos como traduções e criticas de arte outros, pelo contrário, proporcionam-lhe condições para que possa abandonar o País a fim de poder realizar em pleno a sua actividade criadora.
França, Polónia, Itália, República Checa, mas também Angola e Moçambique são alguns dos Países que lhe oferecem possibilidades e condições de trabalho.
Mas foi o Brasil o País que mais se aproximou de Lopes-Graça.
As relações com compositores Brasileiros tiveram início em 1948, quando do Congresso dos Compositores e Musicólogos Progressistas, em Praga, manifestação na órbita da Internacional Comunista que, perante as novas condições sociais que se colocavam depois da II Guerra Mundial, discutiu a questão da “forma e do conteúdo”, do “nacionalismo versus cosmopolitismo”, isto é, a modernidade musical face aos movimentos ideológicos, políticos e sociais.
Lopes-Graça participou em tal Congresso (clandestinamente) e aí encontrou muitos seus parceiros brasileiros.
O compositor encontrava-se então em pleno aprofundamento do seu nacionalismo musical. Já os compositores brasileiros, pelo contrário, encontravam-se organizados no movimento “Música Viva” e, como tal, ligados às correntes cosmopolitas em torno das técnicas “Dodecafónicas”.
È a partir deste Congresso que se estabelece uma forte ligação entre Lopes-Graça e os compositores brasileiros, documentada em vasta correspondência, versando a música contemporânea nos dois países irmãos e as possibilidades de um possível percurso comum visando um trajecto musical lusófono.
Lopes-Graça encontrava-se então muito mais avançado nas bases éticas e étnicas do seu nacionalismo o que provocava, não só a admiração como a curiosidade, dos seus colegas brasileiros.
O primeiro convite para Lopes-Graça se deslocar ao Brasil surgiu através do compositor Mozart de Araújo, em 1951, que aquele compositor justifica afirmando que tal convite não tem apenas um significado político de aproximação entre os nossos países, mas decorre também da admiração que tenho pela sua obra construtiva e pela sua inteligência...
A progressiva troca do Dodecafonismo pelo Nacionalismo por parte dos compositores brasileiros, com a consequente apresentação da sua música em concertos da Sociedade de Música Contemporânea Sonata (de que Lopes-Graça era Director) e a recíproca execução de música de Lopes-Graça no Brasil, são os passos seguintes deste percurso de aproximação.

È no seio deste processo que Lopes-Graça escreve Viagens na minha Terra e Onze Glosas sobre música Tradicional Portuguesa (das quais serão apresentadas algumas neste concerto), obras representativas de um nacionalismo muito profundo e representativo na sua linguagem musical.

Depois de sucessivas tentativas, Lopes-Graça acaba por visitar o Brasil, a convite do Ministério da Educação e Cultura, realizando recitais e conferências à volta de música portuguesa em várias cidades, ao longo de quatro meses.
Esta aproximação foi de tal modo frutuosa que Lopes-Graça recebeu diversos convites e diligências para se fixar naquele País, mas acaba por regressar à Pátria que lhe era madrasta porque, como confessava por carta a Cochofel, tudo isto é desconcertante e eu creio que nunca me adaptaria, talvez por já estar por demais conquistado, agarrado a coisas que podem não ter tanta grandeza, tanta surpresa, tantas promessas, mas que são aquelas com que posso respirar. (22/8/58).
O interesse do programa de piano e flauta, que nos é proposto pelo Duo Tonalis neste concerto reside, desde logo, na apresentação de obras que expressam esta época de relacionamento e aproximação musical de Brasil e Portugal, personificada na pessoa de Lopes-Graça e de vários compositores brasileiros, retrato singular de uma época que ficou tristemente conhecida como o Portugal orgulhosamente só.
Trata-se de um programa de compositores que ultrapassaram o nacionalismo novecentista e intuitivo de Villa-Lobos e Viana da Mota, construindo um nacionalismo atravessado pela dialéctica entre o nacional e o universal, aceitando e promovendo as respectivas diversidades nacionais (ou culturais) num aprofundamento ético e étnico na recolha e tratamento dos espécimes folclóricos.

É este o momento histórico na música lusófona proposto neste programa.
Do lado Brasileiro são-nos apresentadas obras de:
César Guerra – Peixe, compositor de ascendência portuguesas, nascido em 1914, que se dedicou durante anos às técnicas dodecafónicas, com as quais rompeu definitivamente em 1949, dedicando-se desde aí a um nacionalismo popular no seguimento de Villa-Lobos e Mignone que o levaria à própria recolha de música popular no nordeste brasileiro.
Mozart Camargo Guarnieiri, nasceu em 1907, compositor que estudou em Paris com Charles Koechlin (com quem anos antes tinha trabalhado Lopes-Graça) e que possui uma obra fundamentalmente assente no folclore brasileiro, com uma coerência ética e estética, sem precedentes naquele País.
Cláudio Santoro, nascido em 1919, compositor que se iniciou em composição debaixo da orientação do alemão Koellreuter, o arauto das técnicas dodecafónicas no Brasil e fundador do movimento Mùsica Viva. Em 1948 ganha uma bolsa para estudar em Paris com Nadia Boulanger e acaba por renegar o credo dodecafonista, abraçando um estilo nacionalista muito mais preocupado com o lado estético do que ético. .
Para completar o ethos deste programa, registe-se que o próprio Duo Tonalis é composto pela pianista brasileira Gláucia Leal e pela flautista portuguesa Sílvia Sobral.

14 outubro 2006

Moção aprovada

Moção

Considerando que nos encontramos numa época em que se valoriza o Ter e se esquece o Ser

Considerando que estamos num período em que Cultura se confunde com Espectáculo

Considerando que na terra (Tomar) onde todo a gente se proclama Profissional e evita ser confundido com amador, confundindo mercenário e qualidade e esquecendo que qualquer bom profissional é amador (entendendo que amador é o que ama o que faz e, necessariamente, só ama o bom e o bem!!)

Propomos:

Que o próximo concerto do Coro Canto Firme (dia 20, 21H30, Auditório Lopes-Graça (Canto-Firme)), incluído no Ciclo Lopes-Graça altamente profissionalizado e onde todos os concertos são pagos seja, por isso mesmo, também, pago!

Aprovado por Unanimidade!

P.S. – É preço de pelintra (4 eur.) e pode-se adquirir à porta...

24 setembro 2006

Ciclo de Música de Lopes-Graça - Cantar Natal

CICLO DE MÚSICA CANTAR NATAL
NA
COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DE LOPES-GRAÇA

A realização do Ciclo de Música de Sopesaras no Cantar Natal afigura-se como um reencontro artístico e estético entre a música do compositor e a sua terra natal.
Dentro das limitações próprias de uma Associação como a Canto Firme e de uma Autarquia como a de Tomar, pares na organização deste ciclo, ponderou-se a escolha de um repertório diversificado, de alguma forma representativo ao nível do interesse de divulgação e dignificante para a Cidade de Tomar.
Escolheu-se para abertura o dia 20 de Outubro, dia de Stª Iria, data que o compositor sempre prezou, sobretudo por ser a época da Feira das Passas (frutos secos), “mimo” que seus pais sempre lhe enviavam para Lisboa.
A periodicidade dos eventos musicais será no mínimo semanal. Durante o Mês de Outubro e Novembro no Auditório Lopes-Graça (da Canto Firme) ou no Auditório da Biblioteca Municipal, ficando os concertos de Dezembro para o Cine-Teatro de Tomar.
A data de 17 de Dezembro, aniversário natalício do compositor, marca o encerramento do Ciclo.
A abertura do Cantar Natal está a cargo do Coro Canto Firme (20 de Outubro), o qual terá a responsabilidade de simbolicamente representar a quinhão de escrita para coro a capella, parte importante e estrutural na obra do compositor. Neste concerto será apresentado integralmente o Livro I Série de Canções Regionais para Coro a Capella e algumas das obras que o compositor ofereceu e dedicou ao Coro Canto Firme, como o Díptíco Tomar e as Três Canções Corais.
O Duo Tonalis, constituído pela pianista brasileira Gláucia Leal e pela flautista portuguesa Sílvia Sobral, apresenta a 28 de Outubro, um interessante repertório de confronto entre os compositores brasileiros Guerra Peixe, Cláudio Santoro e Camargo Guarnieri com o português Lopes-Graça. Trata-se de músicos brasileiros que colaboraram de perto com a organização de concertos Sonata, que se cruzaram com Lopes-Graça no Brasil, em Portugal e na Europa, trocando activa correspondência sobre correntes estéticas e artísticas do seu tempo reflectindo em conjunto sobre a posição do artista e da arte na sociedade.
A vertente de intenções pedagógicas presente na obra do compositor está muito bem apresentada neste Ciclo.
Assim, de 3 a 5 de Novembro teremos o Curso de Interpretação de Música Portuguesa para Piano e Conjuntos Instrumentais dirigido por Olga Prats, com sessões abertas ao público interessado, bem como uma conferência por Sérgio Azevedo.
No dia 5 de Novembro realiza-se o Concerto Final dos Participantes no Curso.
Uma Audição, com alunos da Escola de Música Canto Firme, realiza-se a 11 de Novembro, onde será realizado o lançamento de um CD com as Canções e Rondas Infantis, adaptadas do cancioneiro popular português, com acompanhamento ao piano. Algumas destas canções serão executadas ao vivo por um Coro de Pequenos Cantores, sendo o programa completado com a apresentação de peças do Álbum do Jovem Pianista, e versões orquestrais de algumas das chamadas canções heróicas pela Orquestra da escola de Música.
Esta vertente mais pedagógica terminará, no dia 25 de Novembro, com um concerto organizado com Alunos da Escola de Música do Conservatório Nacional e totalmente preenchido com obras de Fernando Lopes-Graça para os mais variados instrumentos e formações.
O Concerto do dia 18 de Novembro, com o título Lopes-Graça - popular e erudito, será dedicado ao repertório para guitarra e flauta, num concerto com Paulo Amorim (guitarra), intérprete que recentemente gravou as integrais para guitarra do compositor e João Pereira Coutinho na flauta.
As integrais para quarteto de cordas, serão apresentadas pelo Quarteto de S. Roque, no dia 1 de Dezembro, destacando-se na programação a apresentação das 14 Anotações, peça emblemática e marcante na obra do compositor para além da Suite Rústica nº2.
Segue-se no dia seguinte, 2 de Dezembro, a música para piano solo, uma das partes mais vastas e importante da tábua de obras de Fernando Lopes-Graça e que estará presente através do concerto de Miguel Borges Coelho, concerto que nos propõe um interessante confronto entre a Suite nº 7 In Memoriam de Bella Bartok de Lopes-Graça, com uma Sonata (1926) do próprio compositor húngaro.
No dia 12 de Dezembro apresenta-se o grupo “Opus Ensemble”, agrupamento paradigmático na música contemporânea portuguesa, que apresentará no Cine-Teatro de Tomar peças que o compositor tomarense lhes dedicou, individualmente ou em grupo, das quais se pode destacar Geórgicas (1989), obra que teve a sua primeira apresentação pública naquela sala de espectáculos e de concertos, na presença do compositor, na comemoração do aniversário dos seus oitenta anos.
O dia 17 de Dezembro, data do nascimento do compositor, terá como corolário um concerto com o pianista Miguel Henriques, o qual abriu as comemorações centenárias em Tomar, um ano antes, no Auditório da Biblioteca Municipal num concerto a solo, e a Orquestra Clássica de Espinho, dirigida por Cesário Costa.
Neste concerto destaque-se, pelo seu simbolismo, a execução do Scherso Heróico (à memória de Chopin) para Orquestra, obra escrita em Tomar nas férias grandes de 1949 e o 2º Concerto para Piano e Orquestra, apresentado pela 1ª vez em 1953, no Pavilhão dos Desportos, tendo depois sido revisto em 1971 e que, pela sua dimensão e dificuldade, muito poucas vezes tem sido executado.
O Ciclo de Música Sopesaras do Cantar Natal só é possível graças ao apoio do Ministério da Cultura, do Instituto das Artes, da Associação Canto-Firme de Tomar e da compreensão dos próprios músicos intervenientes.

Viva o Património

Existem artistas amadores e artistas profissionais.
Existem Profissionais que são tão bons que até são amadores e amadores tão bons tão bons, que até são profissionais.
Bom, depois existem os medíocres…alguns até são amadores e outros são profissionais.
É um pouco saloio pretender dizer que uma manifestação artística é boa ou tem qualidade só porque é profissional…embora seja a moda e prática cá no burgo…
No programa das Jornadas Europeias do Património do Convento de Cristo, existiram as actividades abertas ao público e a actividade onde se acesso pagando, já se vê.Parece uma deselegância…
Nos casamentos é que, ultimamente, se introduziu o hábito de convidar as pessoas para pagar a festa.
No Convento de Cristo, ao que transparece, nos convidados para as manifestações artísticas de comemoração, uns São e os outros Não…
E vivam as Jornadas Europeias do Património!!!

13 setembro 2006

A Música como prolongamento do espaço

Concerto na Charola
22 Setembro, 21h30

“O Homem da Idade Média buscava a beleza na contemplação ou na fruição dos ritmos interiores da alma em estado de graça” – Umberto Eco.

Também o programa deste concerto foi pensado em termos de contemplação.
Uma contemplação das cores da própria charola, onde o esplendor da cor do ouro, dos verdes, dos azuis ou dos amarelos, vai criando ritmos claros e escuros, numa harmonia inteligível, onde a luz nos parece irradiar do próprio espaço.
O próprio espaço em silêncio, povoado que é de significados, transforma-se numa alegoria de “música das esferas”, a música interior que existe em cada um de nós e que nos permite contactar os deuses.
Pelo contrário, a música que vamos fazer neste espaço, será sempre uma actividade humana, como tal imperfeita, que se ficará sempre por uma “música mundana”.
Mas, convidado que foi o Coro Canto Firme para aqui realizar um concerto, a música mundana a apresentar pretende, simbolicamente, assumir-se como um prolongamento do espaço que se depara à frente de cada ouvinte/espectador, para lá da existente balaustrada, construindo o momento de encontro entre a realidade espiritual e a realidade material.
Claro que tudo isto é muito alegórico.
O Coro Canto-Firme é uma realidade teimosamente amadora, que se encontra no início de mais um ano de actividades, que é como quem diz, no princípio de mais um ano lectivo onde cada um de nós irá aprender mais um pouco com os outros.
Há muitos anos que não cantávamos no convento. Desde a última Festa dos Tabuleiros, numa “viagem” onde o coro representou a Igreja, cantando as falas do Auto da Alma de Gil Vicente numa versão encenada pelo João Mota.
Recomeçámos os ensaios a 4 de Setembro, estando por isso numa espécie de pré-época.
Preparámos um programa com música de todas as épocas, entre o sagrado e o profano, assinalando efemérides como as de Mozart e de Lopes Graça, recriando vários ritos litúrgicos, diligenciando construir uma unidade estética a partir de uma variedade de épocas e estilos juntando, musicalmente, cristão, judeus e maçonaria, utilizando o espaço como material sonoro e estilo interpretativo simultaneamente.
Muitos de nós conhecemos o convento por dentro e por fora desde o tempo da nossa infância, quando os padres missionários franqueavam as portas à rapaziada para ali podermos brincar. É uma vivência demasiado intimista de um espaço que foi também a nossa casa.
É esse olhar e esse viver daquelas pedras, os sonhos e as aventuras que ali nos habituámos a fruir, que pretendemos exprimir musicalmente, irmanando todos aqueles para quem aquele lugar é, teimosamente, mais do que um grande centro turístico, nem que seja por um pequeno momento mágico e especial.
Artisticamente haverá sempre concertos muito melhores, com profissionais, com estrangeiros, com mais qualidade mas sem esta magia…
Só o facto de o concerto ser a uma Sexta-Feira, final de uma semana de trabalho, é que constitui um factor pouco mágico para quem tem um dia de outros trabalhos.
Mas tem de ser o gozo a dar-nos forças. Que o nosso prazer ao produzir este concerto possa ser partilhado por quem quiser subir o monte e penetrar na rotunda do Convento de Tomar… perdão! Do Convento de Cristo…

António

12 setembro 2006

Tem que haver sempre um princípio!

- Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
- Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
- Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.
- Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato.


Lewis Carroll, Alice No Pais das Maravilhas