13 setembro 2006

A Música como prolongamento do espaço

Concerto na Charola
22 Setembro, 21h30

“O Homem da Idade Média buscava a beleza na contemplação ou na fruição dos ritmos interiores da alma em estado de graça” – Umberto Eco.

Também o programa deste concerto foi pensado em termos de contemplação.
Uma contemplação das cores da própria charola, onde o esplendor da cor do ouro, dos verdes, dos azuis ou dos amarelos, vai criando ritmos claros e escuros, numa harmonia inteligível, onde a luz nos parece irradiar do próprio espaço.
O próprio espaço em silêncio, povoado que é de significados, transforma-se numa alegoria de “música das esferas”, a música interior que existe em cada um de nós e que nos permite contactar os deuses.
Pelo contrário, a música que vamos fazer neste espaço, será sempre uma actividade humana, como tal imperfeita, que se ficará sempre por uma “música mundana”.
Mas, convidado que foi o Coro Canto Firme para aqui realizar um concerto, a música mundana a apresentar pretende, simbolicamente, assumir-se como um prolongamento do espaço que se depara à frente de cada ouvinte/espectador, para lá da existente balaustrada, construindo o momento de encontro entre a realidade espiritual e a realidade material.
Claro que tudo isto é muito alegórico.
O Coro Canto-Firme é uma realidade teimosamente amadora, que se encontra no início de mais um ano de actividades, que é como quem diz, no princípio de mais um ano lectivo onde cada um de nós irá aprender mais um pouco com os outros.
Há muitos anos que não cantávamos no convento. Desde a última Festa dos Tabuleiros, numa “viagem” onde o coro representou a Igreja, cantando as falas do Auto da Alma de Gil Vicente numa versão encenada pelo João Mota.
Recomeçámos os ensaios a 4 de Setembro, estando por isso numa espécie de pré-época.
Preparámos um programa com música de todas as épocas, entre o sagrado e o profano, assinalando efemérides como as de Mozart e de Lopes Graça, recriando vários ritos litúrgicos, diligenciando construir uma unidade estética a partir de uma variedade de épocas e estilos juntando, musicalmente, cristão, judeus e maçonaria, utilizando o espaço como material sonoro e estilo interpretativo simultaneamente.
Muitos de nós conhecemos o convento por dentro e por fora desde o tempo da nossa infância, quando os padres missionários franqueavam as portas à rapaziada para ali podermos brincar. É uma vivência demasiado intimista de um espaço que foi também a nossa casa.
É esse olhar e esse viver daquelas pedras, os sonhos e as aventuras que ali nos habituámos a fruir, que pretendemos exprimir musicalmente, irmanando todos aqueles para quem aquele lugar é, teimosamente, mais do que um grande centro turístico, nem que seja por um pequeno momento mágico e especial.
Artisticamente haverá sempre concertos muito melhores, com profissionais, com estrangeiros, com mais qualidade mas sem esta magia…
Só o facto de o concerto ser a uma Sexta-Feira, final de uma semana de trabalho, é que constitui um factor pouco mágico para quem tem um dia de outros trabalhos.
Mas tem de ser o gozo a dar-nos forças. Que o nosso prazer ao produzir este concerto possa ser partilhado por quem quiser subir o monte e penetrar na rotunda do Convento de Tomar… perdão! Do Convento de Cristo…

António

7 comentários:

Anónimo disse...

Em "A Música como prolongamento do espaço" (texto que apreciei ler) só não compreendi bem a imagem: "ouvintes para lá da balaustrada existente" ? resumindo, significará isso que o publico se virá a concentrar no coro alto ? ou será que a "balaustrada" a que se refere é a teia ?
Caso o autor me venha a tirar a dúvida, querem melhor exemplo da vantagem de um blogue ?
Parabens
tílias e buganvílias

Anónimo disse...

Lido o texto "A Música como prolongamento do espaço", que apreciei, só não entendi a imagem "ouvintes para lá da balaustrada" ? significa isso que o público irá assistir do coro alto ?
Como vê, caro António, vantagens de um blogue !!!!!!
Parabens
Tílias e buganvílias

Anónimo disse...

Saudemos a Canto Firme, filha dilecta da Nabantina, pelo seu relevante papel no desenvolvimento cultural de Tomar e pela sua vinda até à bolsfera.
Que venha por bem e para ficar por muitos e muitos anos e bons.
Por Tomar !

João Henriques Simões

Anónimo disse...

Devo dizer que, a Canto Firme, estará sempre no meu coração...
Mas os meus parabéns vão, em especial, para o Maestro António.
Maria Rebelde

Anónimo disse...

Sabe o que falta Sr. Maestro? Música!!!Música...no blogue...claro!!!
Maria Rebelde

Anónimo disse...

Partilhando as minhas dúvidas, mas tambem o meu "aprender até morrer", aqui deixo este pequeno apontamento ao autor do texto "A Música como prolongamento do espaço", Maestro que só aceita alguns para cantar no seu coro .....o que nunca foi o meu caso (ele lá saberá porquê):

Balaustrada - série de balaustres formando grade

Teia - divisória que há no corpo de algumas igrejas, para a separação do povo, e nos tribunais e em algumas salas de sessões públicas, para a separação dos espectadores.

(in Dicionário Prático Ilustrado - Lello & Irmão editores 1981)

Bom concerto e que seja pequeno o espaço "atrás da balaustrada" para todos os que vos irão ouvir
tílias e buganvilias

Anónimo disse...

Também eu já contactei os deuses nessa Charola, nesse lugar mágico que é o Convento...
Entrei também numa outra "VIAGEM" e também ela mágica, numa outra encenação do João Mota...
Só quem cantou e canta (neste coro) sabe o que se sente...
Parabéns Sousa pelo seu trabalho. Tenho saudades...
Uma "ex tecla do seu instrumento"
ARM